quinta-feira, 21 de abril de 2011

Negócios sociais: uma alternativa para a juventude

Raiana Ribeiro
raianaribeiro@aprendiz.org.br


Já pensou em trabalhar fazendo o que gosta, ganhando por isso e ainda ajudando quem precisa?
Reunir esses três elementos parece quase impossível quando nos deparamos com a voracidade do mercado de trabalho, a impossibilidade de se sustentar através do voluntariado e, sobretudo, a dificuldade em encontrar espaço para realizar atividades que realmente nos dão prazer. Agora, imagine tudo isso sendo encarado como solução e não problema.

É o que estão fazendo alguns empreendedores no Brasil e no mundo por meio dos chamados negócios sociais. Surgidas como uma nova modalidade no mundo dos negócios, essas experiências tentam juntar o melhor das práticas da iniciativa privada com o melhor do terceiro setor (que compreende as organizações sem fins lucrativos) para criar algo totalmente novo e inédito, que os especialistas passaram a denominar como Setor Dois e Meio.

Nina Valentini, diretora-executiva do Projeto 2,5 – uma organização que tem como objetivo mobilizar e inspirar empresários e jovens a criarem seus próprios modelos de negócios sociais – define que o foco desses empreendimentos é a redução da pobreza e da desigualdade social, utilizando para isso mecanismos de mercado. “Ou seja, são empresas focadas em crescer, que querem ter lucro, conseguem atrair investimento, mas que – necessariamente – prestam um serviço ou vendem um produto que gera impacto social”, afirma a administradora.

O número de negócios sociais tem crescido no Brasil e o que se percebe é que grande parte dessas empresas ainda está experimentando formas novas de se relacionar com produtores, clientes, investidores e funcionários. “Eu acredito que está surgindo algo realmente novo, até em termos de modelo financeiro, formas de você mensurar o impacto social, de criar mecanismos de participação, enfim, formas de se relacionar com o mercado”.

Segundo Nina, o grande desafio ainda é o modelo de governança - que nada mais é do que a maneira como essas organizações funcionam. Para ela, “um negócio social não pode se comportar como Organização Não Governamental (ONG), nem totalmente como um negócio privado, mas ao mesmo tempo ele acaba oferecendo um serviço que está baseado em uma relação de confiança. Esse é o grande diferencial”.

Outra questão para os negócios sociais é o que fazer com os lucros. “A governança dos lucros depende de cada organização. Para ter autonomia é preciso ter retorno, poder crescer, atrair capital. Hoje, cada negócio tem a sua governança: tem empresa que só paga o que emprestou, tem empresa que distribui o lucro e tem empresa que investe 100%”, acrescenta ela.

Grameen Bank
O nome por trás desse movimento é o do economista bengalês Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006. Ele é o fundador do maior banco de micro-crédito do mundo, o Grameen Bank, localizado em Bangladesh, que tem como objetivo emprestar dinheiro a juros baixos para a população de baixa renda, estimulando a economia local e atuando como ferramenta de combate à pobreza.

O banco revolucionou as práticas bancárias tradicionais por ter criado um sistema baseado na confiança mútua, responsabilidade, participação e criatividade. Além disso, permitiu que as pessoas empreendessem seus próprios negócios, o que lhes conferiu autonomia e permitiu que se desenvolvessem de maneira independente.
Yunus se tornou o “padrinho” dessas formas híbridas de negócio e é leitura obrigatória para quem pretende começar um negócio social. Nas universidades e principalmente entre os jovens, suas ideias convergiram com o descontentamento de uma geração que foi criada vendo as desigualdades que o capitalismo não só não resolveu, como aprofundou.
Se agregarmos a esse sentimento a crise financeira que abateu a Europa e os Estados Unidos em 2008, e todos os alertas científicos em relação ao meio ambiente, chegaremos ao que Nina considera hoje como “uma questão de sobrevivência”. “A minha geração está muito frustrada. Não dá mais pra viver com esse nível de pobreza e destruição ambiental. É preciso mudar a lógica de funcionamento do mercado”.

Tekoha
Em outubro de 2006 nasceu a Tekoha - uma empresa preocupada em viabilizar a venda de produtos elaborados artesanalmente por comunidades espalhadas pelo país. Utilizando as concepções acerca do comércio justo, que pressupõem que todos os envolvidos na cadeia são beneficiados de maneira equitativa, a Tekoha se dedica a criar e fomentar uma grande rede de comercialização desses produtos.
De acordo com a sócia e diretora, Andressa Trivelli, a parte de capacitação das comunidades é realizada através de parcerias com ONGs, enquanto a Tekoha faz a mediação entre esses locais e os clientes. “As parcerias com organizações sociais são fundamentais para avaliar o impacto social que a comercialização do que é produzido por elas gera na vida das pessoas”.

Por outro lado, Andressa afirma que os clientes que procuram a empresa já vêm em busca de produtos sustentáveis. “Tudo isso exige um tratamento diferenciado. Há uma preocupação, por exemplo, com o pagamento devolvido à comunidade e, apesar de não estarmos nesse estágio hoje, acreditamos que o modelo de governança ideal será a distribuição dos lucros com todos os envolvidos no processo”.

                           

Juventude e movimento
As trajetórias pessoais de Nina Valentini, 23, e Andressa Trivelli, 26, são um bom exemplo do movimento que está ocorrendo para a conformação do Setor Dois e Meio. A primeira dedicou parte de sua carreira ao terceiro setor e, incomodada com a falta de perspectiva de crescimento e limitações do modelo, migrou para os negócios sociais. Já a segunda, com experiência no mundo corporativo, sentia falta de visualizar no seu trabalho uma forma de ajudar as pessoas.
Ambas se sentem realizadas com as atividades em negócios sociais. Nina tem desenvolvido no Projeto 2,5 novas possibilidades de crescimento, sem perder de vista a função social da empresa, enquanto Andressa finalmente encontrou um significado para o seu trabalho, colaborando na geração de renda nas comunidades.


Fonte: http://www.essencialparachegarla.com.br/

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